MAJOR PAULO NUNES

"Gostaria de ver a juventude se politizando"

O major da reserva da PM-AL Paulo Roberto Nunes Calaça ensaia seu retorno à vida política. Ele, que já foi deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT), desempenhando seu mandato entre 1999 e 2003, é pré-candidato a vereador pelo município de Maragogi nas eleições deste ano pelo Partido Progressista (PP). Primeiro oficial superior da Polícia Militar de Alagoas, na ativa, a ingressar na carreira política, já chegou quebrando paradigmas: filiou-se a um partido historicamente de esquerda, o que lhe rendeu preconceitos dentro da própria tropa.

Natural de Maragogi, casado, pai de um casal de filhos, avô de um menino, Paulo Nunes tem 58 anos de idade. Graduado e pós-graduado em Segurança Pública pela Academia Militar de Paudalho, Pernambuco, entre 1981 e 1983, tem especialização em Bombeiro Militar pelo Estado de Minas Gerais e pós-graduação em Gestão Pública pelo CESMAC. Chegou a cursar Ciências Sociais na UFAL, mas não chegou a concluir.

Militar durante vinte anos, Paulo Nunes onde chegou ao posto de major. Na PM, foi presidente, por dois mandatos, da Associação dos Oficiais de Alagoas (ASSOMAL), de 1994 a 1998. Também foi Superintende Estadual da Pesca em Alagoas, de 2003 a 2006. No serviço público de âmbito municipal, esteve no comando das Secretarias de Administração e de Finanças da prefeitura de Maragogi, além de secretário de Planejamento, Controlador Geral e secretário de Saúde do município de Atalaia.

O que poucos se lembram e a nova geração desconhece é que Paulo Nunes foi importante personagem num fato histórico que marcou a política alagoana e atraiu a atenção da mídia nacional: a renúncia do governador Divaldo Suruagy, em 17 de julho de 1997. Esse acontecimento foi no seu terceiro mandato de Suruagy, após o tiroteio de 17 de julho de 1997, na Assembleia Legislativa do Estado, tudo acompanhado ao vivo pelo Ministério do Exército em Brasília. O que culminou em desordem social, desobediências hierárquicas e afins.

O papel de Nunes foi liderar as tropas. A ASSOMAL, sempre submissa ao governo, rebelou-se, juntando-se à OAB-AL, sindicatos etc. Pela primeira vez na História, os militares aderiram ao movimento que desencadeou na grande manifestação de 17 de julho de 1997, com mais de 30.000 servidores públicos nas ruas, com apoio de toda a sociedade alagoana. Exigiam a cassação do governador. Apesar da repercussão, nada, contudo, foi resolvido.

Na época, servidores estaduais estavam há mais de nove meses com os salários atrasados e o comércio do estado falido, com um grande índice de inadimplência. Paulo relembra do caso de um soldado de nome Leandro, que se suicidou depois de matar a esposa e os filhos, desesperado por falta de comida e cheio de dívidas. Então, os servidores, sobretudo os policiais civis e militares, juntaram-se com o intuito de tirar o governador do poder. Tomaram a Praça Dom Pedro e na frente da Assembleia Legislativa, confrontaram-se com os capangas dos deputados governistas, forçando a renúncia do governador. Pressionada, a prefeita da época, Katia Born, jogou a seguinte frase: A praça é do povo.

Tropas do Exército cercaram o prédio da Assembleia para impedir a entrada dos manifestantes e o derramamento de sangue. Após uma sequência de tiros de festim, seguida de tiroteio entre os pistoleiros dos deputados e os policiais rebelados, o governador foi avisado da situação e comunicou a seu líder na Assembleia, por telefone, que estava renunciando ao cargo. Só depois do anúncio da renúncia, os ânimos serenaram e a oposição, enfim, pôde comemorar a queda do governador.

A nossa conversa com Paulo Nunes é sobre política.

Militares aderiram ao movimento que desencadeou na grande manifestação de 17 de julho de 1997.

MN – Por que decidiu se lançar candidato a vereador por Maragogi?
NUNES – Primeiro, não estava nos meus planos. Foi um convite do prefeito Fernando Sérgio Lira para que eu representasse São Bento (povoado de Maragogi). Alegando ele que era importante que eu fosse votado, que já estava com muito tempo que eu não era testado nas urnas. Ponderei um pouco e topei. Gosto do parlamento, da boa política, me sinto preparado e experiente. Aceitei o convite de ser pré-candidato a vereador por Maragogi. Tenho certeza que com a minha vivência na administração pública, experiência política tenho condições de ser candidato ao cargo de vereador, eleito e fazer um mandato muito propositivo.

MN – Qual sua visão sobre a política de Maragogi?
NUNES – A política de Maragogi não é diferente da praticada no restante do país. É um município pequeno, com potencial turístico, temos uma área proporcionalmente grande de reformar agrária, rural. Percebemos que a questão pessoal acaba sendo mais forte do que a discussão política em si. Mas, nada que não possa ser superado e aperfeiçoado. Tudo na vida é uma melhoria contínua, inclusive na política. Isso vai sendo superado, o eleitor vai ficando mais esclarecido, tendo mais acesso às informações e naturalmente que a escolha do eleitor vai dando uma nova dinâmica na atuação política dos seus representantes tanto no Executivo, como no Legislativo.

MN – O senhor foi eleito por um partido de esquerda, o PT (Partido dos Trabalhadores), e se mantém nessa linha de pensamento até hoje. É complicado ser um militar de esquerda?
NUNES – Não. Eu estava lendo o livro: A esquerda Militar no Brasil. Tem muita história de esquerda no militarismo no Brasil. Histórias antigas, de movimentos… E por aí vai. Na verdade, quando entrei no PT, em 1997, eu era presidente da Associação dos Oficiais, me identifiquei com a linha partidária, com a discussão, mas saí do partido 12 anos depois. Não é complicado por que vai muito da formação, do que a gente defende, da visão de mundo, da indignação com as injustiças sociais, principalmente. Quando eu defendo o socialismo, por exemplo, que é uma ideia a ser implementada, eu acredito que é melhor dividir a riqueza entre muitos, do que concentrar em poucos. Quando eu defendo essa tese, eu estou defendendo uma melhor distribuição da renda, uma melhor qualidade de vida, a educação para todos, saúde acessível por meio do SUS. Então, independente da questão partidária, primeiro vem o pensamento. O partido é um instrumento, é um pré-requisito para o indivíduo ser candidato. Naturalmente que o partido tem o seu programa, sua linha e as suas ideias. Mas, eu me identifico bem com o pensamento de esquerda, se é que são de esquerda, nesse sentido: de dividir, de melhorar a vida de todos, do bem comum, da coletividade, esse é o meu pensamento, independente da cor partidária.

MN – Como seria um vereador com visão socialista num cenário político individualista?
NUNES – Independente do cenário ou do local de atuação política, não devemos perder a nossa identidade. Devemos tratar de forma muito respeitosa a posição dos outros, o que você defende, o que enxerga como melhor, o que aprendeu na sua formação, o seu posicionamento, as suas convicções, as suas ideias… Tem que utilizar dos argumentos para convencer que a sua ideia, seja ela socialista, capitalista, de direita, de esquerda… Como queiram encarar. Ele está defendendo teses, posições e interesses coletivos. Quando o político se posiciona no parlamento, se posiciona nesse sentido. Independente do cenário, do local, ele não deve deixar de se posicionar e defender aquilo que ele acredita e o que pensa.

MN – O que o senhor aprendeu com sua experiência como deputado?
NUNES – Eu fui deputado com 39 anos. Era major da polícia, tinha vindo de um movimento dos militares contra um governo injusto, incompetente, que não conseguia nem pagar o salário dos servidores. A polícia sucateada, o Estado quebrado. Quando mudou o sistema econômico do país, tinha que enxugar a máquina e o governo se perdeu administrativamente e o movimento da polícia cresceu, e nós chegamos a tirar o governo do poder. Nasceu alí a nossa história. Mas já tinha vindo de outras lutas, eu era presidente da associação dos oficiais, como já falei, me filiei ao fórum permanente contra a violência, tinha todo um histórico. Veio o parlamento como uma necessidade também da tropa ter um representante. Encerrei minha carreira militar por uma causa nobre de representar uma categoria. Representei bem o partido, que foi uma escola, pois naquele momento o PT estava colocando para o Brasil todas as propostas na área de Saúde, Educação, Infraestrutura, Habitação e Assistência Social; isso a gente discutia exaustivamente junto à universidade. Então, foi um período muito rico de aprendizado, relativo às questões sociais. No parlamento, está a história aí escrita, apesar de nunca ter sido eleito antes, fui o deputado por 03 anos que mais apresentou projetos, apesar da pouca experiência à época. Foi um mandato propositivo, atuante, tive essa passagem pelo PT, não me envolvi em corrupção e honrei o nome do partido, da minha família, da polícia, dos meu amigos, dos meus eleitores, me orgulho por essa passagem e fiz um mandato bastante propositivo.

MN – Em que essa experiência ajudaria na sua desenvoltura na Câmara de Vereadores, ou são instituições diferentes?
NUNES – Não. São considerados parlamentos, superior e mirim, mas ambos têm a mesma importância. O debate é o mesmo, é o das necessidades da sociedade, que o parlamentar precisa se posicionar, precisa estar bem informado, inteirado, dos números, das estatísticas, conhecer o município por dentro administrativamente, conhecer as necessidades da sociedade, o perfil do município, pois quando se vai fazer defesa de uma tese, ou se posicionar diante de um projeto, tem que ter argumento até para convencer os pares, se é importante ou não o referido projeto. Naturalmente, a Câmara tem que estar qualificada para se posicionar de acordo com o clamor da sociedade, em compromisso com aqueles que o parlamentar representa, fazendo assim um mandato que realmente possa dar resultados positivos para as necessidades da sociedade.

MN – Quais ações ou projetos poderiam ser feitos para melhorar as condições de vida das periferias?
NUNES – Se você considerar periferias de Maragogi, você tem aí 03 ou 04 que você pode chamar de favelas com estrutura precária de saneamento, de habitação… Condições às vezes até sub-humanas. É necessário um projeto bom de urbanização, acessibilidade, creche, abastecimento de água, iluminação pública. São todos projetos que você pode melhorar as condições de vida das pessoas no seu habitat, no lugar, na comunidade que elas escolheram para viver. Naturalmente que não existe projeto melhor do que educar a população. Claro que temos de ter a compreensão que isso é um processo. Educação não é uma coisa, eu vou fazer agora, amanhã o pessoal já tá educado. Isso é um processo.O processo de educação é a escola de qualidade, o acesso à escola garantido, tempo integral, projetos culturais bem trabalhados, e fortemente. A comunidade periférica tem necessidades essenciais, sim, os governos têm trabalhado o assistencialismo, mas não é só isso. A população não quer só isso. A necessidade é tão grande que ela aceita a cesta básica, o assistencialismo, inclusive emergencial. Ela quer ter as condições iguais aos outros, como: o acesso à escola, ao trabalho, a habitação, salário digno… Enfim, toda essa infraestrutura que as pessoas vão se sentir importantes e vão se tornar cada vez mais independentes e livres. Esse é o grande mote: a busca da independência das pessoas. As pessoas independentes podem fazer as suas escolhas sem precisar estar se humilhando a ninguém.

MN – Qual setor do nosso município precisa de mais investimento?
NUNES – Eu vou trabalhar aqui três eixos: o Turismo, que é a mola mestre do município, que gera emprego, traz riqueza e dinheiro; esse turismo precisa estar muito mais organizado para receber melhor. Precisa de infraestrutura, investimento e diversificação dos produtos turísticos. O turista tem que vir para uma cidade que está toda organizada e os produtos turísticos devem estar prontos, preparados para receber o turista. Na Educação, a gente tá bem, melhorou bastante, mas precisa implantar o mais rápido possível a escola de tempo integral. Mesmo que seja como um modelo, um projeto piloto. Temos que implantar, mas isso requer investimento em infraestrutura, qualificação profissional do servidor, para que possa passar para as crianças. O outro eixo é a Infraestrutura do campo. Nós temos que ter estradas boas, zoneamento agrícola. Os nossos hotéis compram, e compram muito, mas estão comprando de fora porque nossa agricultura, principalmente a de economia familiar, que gera, inclusive, vários empregos e renda, ainda não está preparada, qualificada para produzir esses alimentos, entregar aos referidos hotéis e ganhar dinheiro. Mas, precisa de quê? Assistência técnica contínua e de qualidade, zoneamento agrícola para definir quem vai produzir o quê, como vai produzir e o investimento nas estradas para que o escoamento dessas safras não venha acarretar no aumento do valor do produto e tenha facilidade de fazer esse escoamento. Então, eu destaco estes três eixos: investimentos na infraestrutura turística e diversificação do produto, educação de qualidade e de tempo integral, e infraestrutura no campo.

MN – O que o senhor considera necessário para que um político faça um bom trabalho em sua função de vereador?
NUNES – Todo político, em qualquer cargo, tem que ser transparente e honesto – que não é favor nenhum, e ele tem que honrar os compromissos assumidos. Ninguém é obrigado a assumir compromissos, mas uma vez assumidos, você é obrigado a honrá-los. Isso seria básico, não é diferencial, nem favor. Todos deveriam ter esse pensamento e posicionamento. Mas, o vereador, para fazer um bom trabalho, pesa a experiência, os projetos que você tem que discutir com a população. Eu, por exemplo, tenho 40 anos de vida pública. Acumulei uma experiência, mas eu não sei tudo. Ninguém sabe tudo. Eu tenho que utilizar da minha experiência para pelo menos mobilizar a população e ouvir o que ela quer, aí sim, eu seria essa defesa, desse interesse, dessa necessidade, porque estou ali representando com mais força junto ao Poder Executivo. Mas acredito que a ação parlamentar teria um bom trabalho e um bom resultado, se ela atuar dessa forma: envolvendo a sociedade nos diversos segmentos; segmentos de jovens, de mulher, negros, idosos, do trabalhador rural, da marisqueira, do tirador de coco, do pescador, do empresário, do comerciante, do profissional autônomo, dos mais abastados, dos menos, dos que pagam impostos, dos que não pagam… Enfim, de todos. Se o vereador tem essa capacidade de articulação, de dialogar com os diversos segmentos da sociedade, tem a capacidade de votar bem, de convencer o executivo da necessidade de implementar um projeto ou outro e de quais são os projetos prioritários. Tudo isso também tem uma discussão durante a elaboração do orçamento, da LDO – Lei de Diretrizes Orçamentária, da LOA – Lei Orçamentária Anual. Discutir orçamento é discutir poder. Você tem como fazer essa discussão, mas com essa humildade e buscar na população as suas necessidades. Sabe por que eu lhe digo isso? Porque a experiência do orçamento participativo, ela declarou isso, acabou trazendo essa informação para aqueles que achavam que sabiam tudo. Defendo essa linha da humildade, do saber ouvir, que você constrói com a população e faz com que ela se sinta participativa, e vivencie a experiência do pertencimento.
  
MN – A maioria dos projetos enviados pelo Executivo ao nosso Legislativo é aprovado quase por unanimidade, embora alguns tenham repercussão negativa e protestos, pois a população se diz prejudicada. A unanimidade é burra ou esperta?
NUNES – Nem burra nem esperta. Eu gosto de discutir assim: a maioria de voto. No parlamento, eu comecei na situação, eu era governo; e terminei na oposição, mas eu mantive a minha linha de discussão. Não dar para defender o indefensável. E parlamento é maioria. A maioria é o que vence. Por isso, eu digo que tem de ter experiência para se fazer o debate para convencer, inclusive os pares, com argumentos e com dados estatísticos. Agora, projetos polêmicos, que cause discussão, tem que ter prudência do parlamento, de quem está com a agenda de colocar o projeto em votação para colocar isso sem pressa, para discutir, aprimorar, buscar um especialista, se for o caso, fazer uma audiência pública, ouvir todos os lados, os setores, os envolvidos com o projeto para daí você dar o seu voto consciente e muitas vezes até convencer o Executivo de retirar aquele projeto, naquele dado momento. Isso tudo é muito do momento do dia a dia do parlamento. O que não pode é estar entrando tudo pela janela e sendo votado sem discussão. Isso desvaloriza e vai apequenar o parlamento. Este é o poder de representação legítima do povo. E tem que exercer esse poder com autonomia, altivez. Agora, com os olhos voltados para os benefícios e resultados, bem como o que vai dar de bom para a população. Acho que o parlamento tem autonomia e deve dialogar bem, independente de ser situação ou oposição. Mesmo sendo adversário político, não é de cunho pessoal. Deve discutir com o adversário político com argumentos, os prós e contras, o que deve melhorar. Muitas vezes uma discussão no parlamento alerta o executivo para uma melhoria no projeto. Se o parlamento tiver consciência disso e cumprir o seu papel, eu tenho certeza que mesmo no embate entre situação e oposição se chega a um consenso. Fica claro que a Câmara votou, e votou respeitando a opinião de cada um. Isso é o que é importante.

MN – Sem oposição, não há debate, não há questionamento, não há defesa do povo. Esse excesso de liberdade que o Poder Legislativo concede ao Executivo de certa forma não o permite a errar e achar que está certo?
NUNES – Concordo. Tem que haver debate, discussão. Eu fiz várias denúncias na oposição, mas eu fiz assim: pesquisei, estudei, aprofundei, fiz o debate na Câmara, depois apresentei documentos e tal. Teve resultado. Foi uma atuação forte da oposição. Porém, oposição só por oposição, aí é mais briga do que debate. O debate traz consigo a qualidade, o respeito e os argumentos. Então, pode ter um só de oposição, mas se ele fizer uma oposição propositiva, responsável, ele faz um bom debate. Pode até ser a minoria das minorias, mas ele consegue fazer um bom debate. E é salutar na democracia que exista a oposição. Ela não pode servir para polemizar, travar… Ela deve ser qualificada, politizada, fazer o debate e convencer. Defendo que tenha oposição, que tenha debate e que a Câmara seja valorizada e prestigiada pela população, pois muitas vezes elege, mas esquece, deixa pra lá.

MN – Sem debate, a política não perde o sentido?
NUNES – É claro que sem debate a política perde o sentido. A política de modo geral é o debate, inclusive a política do parlamento, para convencer a opinião dos contrários.Mas sempre respeitando a opinião, mesmo que você tenha a sua e seja diferente. Não justifica não ter debate, tudo tem que ser debatido. No parlamento, tem que pautar a política e as necessidades. Quem faz o debate é o parlamento, de acordo com as necessidades que ele ouve da população, gera uma pauta e faz o debate, que se tenha um encaminhamento para o Executivo e deve ter um resultado de volta para a população. Claro que se não tiver debate, a política perde o sentido.

Manifestação exigindo a renúncia do governador Divaldo Suruagy

MN – Como fica uma instituição que se intitula um dos Poderes da nossa Constituição quando perde a credibilidade diante de quem lhe dá esse poder, o povo?
NUNES – Intitula-se, não. Ela é um dos poderes constituídos. Independente de qualquer coisa. Se perder a credibilidade, aí é onde está o negócio da democracia. Se você colocou pelo voto, você tira pelo voto, a cada quatro anos se tem eleição. Acredito que todo mundo aprendeu a votar, nós estamos fazendo isso há trinta anos. Se a instituição que você votou, perdeu o crédito, cabe a você trocar.

MN – O que move a política, segundo Maquiavel, é a luta pela conquista e pela manutenção do poder. O bem comum fica em que plano?
NUNES – Tem que estar em primeiro plano. Existe a luta pelo poder? Existe no momento da campanha, terminaram as eleições, é administração. Desmontou o palanque, tem que se fazer gestão, e gestão inspira responsabilidade social, e responsabilidade social tem que se buscar o bem comum. E vou dizer mais: o poder público tem o papel de tirar de quem tem mais (ele cobra impostos) para viabilizar a vida e o bem comum daqueles que tem menos, ou teve menos oportunidade.

MN – Aliás, o termo maquiavélico acabou surgindo para fazer referência aos atos imorais, desleais, àquelas pessoas que tentam obter vantagem em tudo. Daí a reputação de maquiavélico dada principalmente a governantes sem escrúpulos. Há exceções?
NUNES – Há exceções, sim. Como tem maus policiais, tem os bons policiais; maus e bons advogados, maus e bons médicos… Em toda categoria, existem os bons e os maus, e na política não seria diferente. A política não é uma ilha, ou uma bolha da sociedade. As pessoas que fazem política, vieram da sociedade, obviamente. Então, tem exceção, sim. Tem os bons e os maus. Os bons, precisamos mantê-los; e os maus, tirá-los.

MN – Por que políticos não assumem os compromissos de campanha?
NUNES – Olha, tem que perguntar àqueles que não assumem (rsrsrs). Eu nunca fui executivo, mas tudo o que eu me comprometi na minha trajetória com minha luta de classe, ao chegar ao parlamento, eu defendi com todas as minhas forças. Defendo que o político, assim como o eleitor, deve estar politizado. Apesar de o político ter de fazer os seus compromissos de campanha e registrar no TSE, muitas vezes eles não conhecem os dados, os números, a realidade, e chegam a prometer o que não tem, por isso não cumprem. Aí eu defendo que o político tem de estar preparado, qualificado. Se eu for disputar uma eleição para prefeito, eu tenho que saber qual a arrecadação do município, o orçamento, qual a capacidade de custeio, de investimento, o número de servidores, a folha de pagamento, quanto eu gasto com a máquina, o que sobra para investimentos nas áreas de saúde, educação, estradas, agricultura… Eu tenho que está com o desenho todo na minha cabeça para eu não fazer promessas mirabolantes e depois cair no ridículo de não realizá-las.

MN – Muda o homem quando chega ao Poder, ou o Poder apenas o desmascara?
NUNES – O poder desmascara se ele estiver despreparado para o poder. A experiência tem mostrado que algumas pessoas têm assumido o cargo, e o cargo é maior do que o indivíduo. E, às vezes, a formação é até compatível para o cargo, mas não tem humildade suficiente para exercer o cargo, e aí ele acaba se desmascarando, pois assumiu um poder que não estava compatível até com a estrutura emocional dele. É meio complexo isso, mas diante da minha experiência, tenho visto isso, que muita gente assume um cargo maior do que ele. Aí há uma empolgação, uma soberba, acha que pode tudo e acaba em um fracasso administrativo, pois perde a credibilidade e confiança.

MN – A corrupção está entranhada no sistema político do Brasil como um vírus que danifica o organismo humano, às vezes o destruindo até matar. Parece algo tão “natural” que por muitas vezes escutamos: rouba, mas faz. É permitido roubar dinheiro público, contanto que se dê migalhas ao povo?
NUNES – De jeito nenhum. Isso vai contra a tudo que eu falei até agora. Tem que ser abolida essa questão. Parece que foi em São Paulo, Maluf quem colocou essa questão, ou alguém disse isso pra ele: “rouba, mas faz”. Tem que fazer e fazer sem roubar. O político, principalmente o executivo, ele tem mil oportunidades de ascender na vida política, de ajudar as pessoas, de decidir, de melhorar a vida do seu município. Então, é uma oportunidade que ele tem ímpar. Ele tem que aproveitar isso, e fazer o melhor para o povo. Deve ser abominado da política todo aquele que quer se completar na política. Quando eu falo em política, não é essa politicalha baixa, rasteira, nojenta de um estar denegrindo a imagem do outro, acusando. Não é nada disso. É a política pública da Saúde, da Educação, entre outras, que tem de ser o mais eficiente, transparente possível, e que dê resultado. Diferente do poder privado, o público não tem lucro. O lucro do público é a satisfação com os serviços prestados e as políticas públicas implementadas para a população. Se a população estiver satisfeita com o serviço público de Saúde, Infraestrutura, Educação de qualidade, com os serviços públicos de modo geral atendendo e respeitando os direitos do cidadão. Meu amigo, isso é o bastante para que todos fiquem satisfeitos e a gente diga: estamos discutindo política. É assim que eu penso e foi assim que fiz durante minha trajetória e vou continuar fazendo.

MN – Qual o maior incentivo da corrupção: a facilidade de desviar o dinheiro público ou a impunidade?
NUNES – As duas coisas. O político quando é corrupto, ele sempre acha uma brecha para a corrupção. Hoje, existem vários mecanismos de controle: os conselhos, movimentos que cobram, sites de transparências que acompanham, a própria mídia que contribui para combater. Mas parece que essa questão é endêmica, está enraizada. Respondendo à sua pergunta, que você coloca duas questões, ainda acho que é a impunidade. Eu tenho uma opinião muito pessoal, não basta só prender, como a gente vê no Brasil, tem que devolver o dinheiro público, mas acho que poderia condicionar. No momento que o montante desviado fosse ressarcido, o corrupto teria liberdade. Liberdade condicionada, lógico. O ponto principal seria o dinheiro da corrupção deveria voltar para o povo, para as políticas públicas voltadas para o povo. Ficar preso dez, quinze anos, não adianta, pois quando se soltar vai estar lá o patrimônio, às vezes até bilhões, que adquiriu de forma ilícita, enriquecendo a ele, familiares e até amigos. Acho que era uma forma de aprimorar esse debate.

MN – Quais mudanças políticas o senhor gostaria de ver em Maragogi?
NUNES – Sinceramente, eu queria ver a juventude se politizando. E essa juventude entendendo com clareza o que é um parlamento, quais são as atribuições de um parlamento, do Executivo e cobrando em cima disso de forma politizada. É o meu sonho. Por isso, eu tenho uma ideia de criar o Instituto de Cidadania, que também vai trabalhar nessa linha de formação. Formação política que vai buscar os direitos garantidos por Lei e pela Constituição Federal. Eu fico muito triste quando vejo alguém dizer: “Eu não gosto de política, odeio política”. Às vezes, o indivíduo é graduado, pós-graduado, tem até doutorado, mas expressa esse pensamento. É porque na cabeça dele está essa política troncha, do dia a dia. Isso é um equívoco que precisa ser corrigido. Essa juventude precisa estar politizada, compreender o que é uma política pública de Saúde, que foi uma luta para implantar um SUS, que garante direito a todos. Está funcionando? Não está como deveria. E a gente não está cobrando. A Educação de qualidade de tempo integral, está funcionando? Porque também a gente não está cobrando, como a gente deveria cobrar de forma organizada, mobilizada. Esse seria o meu sonho na política. Na questão administrativa, apesar desse governo municipal que eu faço parte desde o início, ele tem trabalhado e melhorado bastante o município, mas sempre há o que se fazer e o que melhorar. Pegamos de um jeito e hoje está de outro, e bem melhor. Comparem! Mas, temos muito ainda a fazer, e esse é o grande desafio de quem está no poder.

MN – Quais mudanças o senhor gostaria de apresentar à Câmara de Vereadores de Maragogi?
NUNES – Primeiro eu tenho que ser candidato e em seguida, eleito (rsrs). Sou apenas pré-candidato. Sei das dificuldades, sei que é uma das eleições mais difíceis da minha vida, e também a eleição para vereador já é, principalmente em um local pequeno, tem vários candidatos, muitas famílias, que muitas vezes votam no representante, amigo da família. Se eu for eleito vereador, mesmo fazendo um governo de situação, espero e quero que o prefeito Fernando Sérgio Lira se reeleja, vou torcer e vou trabalhar por isso, pois avalio que ele é um governo positivo e pode melhorar ainda mais as condições de vida do povo do município nesse segundo mandato. O papel da Câmara é fundamental. Na oposição ou situação, deve buscar autonomia para que a população identifique a Câmara como autônoma e responsável, faça com que a população participe da vida pública, dando sua opinião. Isso se chama responsabilidade, trabalhar com transparência e autonomia. Em consequência dessa mudança de parâmetro, de comportamento e de visão, do que significa o parlamento; a outra seria de maior interação. A Câmara teria que sair um pouco das quatro paredes, teria que ser mais itinerante, estar na comunidade, nos bairros, nos setores, nas escolas… Ouvindo as pessoas com humildade, se respeitando. Aí, sim, com esses dois eixos comportamentais, se fortaleceria bastante. Não o vereador A, B ou C, mas a Câmara como poder constituído de fiscalização do Poder Executivo, que é esse o seu papel principal, mas para isso ela tem que buscar autonomia, unidade dos seus pares para se fortalecer junto à população. Você pode até dizer: é uma utopia isso. Não. Acredito que isso pode ser trabalhado, e elaborado um plano de ação nesse sentido, para que todos os pares se comprometam com essa valorização do Poder Legislativo municipal como unidade, não dividindo, brigando e trazendo prejuízos para o coletivo e população.

MN – Como o senhor pretende convencer essas duas categorias de eleitor: o desacreditado e aquele que vende o seu voto?
NUNES – O que eu faço e penso desde o início da minha carreira política é o seguinte: aquele que vende o seu voto, ele não merece o quanto recebe. Isso está bem claro na minha cabeça. E vender a sua opinião, o seu voto e não saber ainda a quem está vendendo é uma atitude desprezível. Como também tem essa questão da venda, por outro lado tem a da compra. Você comprar o voto é comprar a consciência das pessoas. Voto não é mercadoria. Então, diante dessa convicção que eu tenho, trabalho desde o início nessa conscientização, de qualificar o voto. Por isso, lhe disse lá atrás: meu sonho é ver essa juventude politizada e participando da vida política, pública do nosso país, estado e município. Esse é o meu sonho e calha com isso agora. Como é que eu tenho esse sonho e vou desqualificar o voto, vou oferecer vantagens para ganhar voto? Não. Eu vou conversar. Claro que eu tenho consciência que esse voto consciente, qualificado não é maioria. Infelizmente, ainda, mas a cada dia isso está melhorando, as informações estão chegando, as pessoas estão discutindo mais.Então, eu faço isso desde o começo e vou continuar fazendo. É necessário que o eleitor olhe os candidatos um por um, avalie a vida pregressa, a qualificação, veja se aquele candidato tem condições de exercer aquele cargo em seu nome. São várias conversas que o eleitor pode ter e chegar a uma conclusão e escolher melhor, sem precisar vender o voto, pois se assim o fizer, já está errando antes de votar. Eu faço isso sempre e vou continuar fazendo. É dessa forma que vou continuar trabalhando para convencer o eleitor, pela confiança de escolher bem e eu vou me colocar nessa condição de o representá-lo e não decepcioná-lo.

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