No Dia do Professor, confira o relato de um educador do município de Maragogi

"A perseguição que meu colega sofre hoje, poderá ser enfrentada por mim amanhã."

Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, considerado um dos pensadores mais notáveis da história da pedagogia mundial, defendia uma educação libertária. Segundo ele, “Quando a educação não é libertária, o sonho do oprimido é ser opressor.” Em Maragogi, as realidades são bem diferentes. Nada de novidade no papel dos opressores que insistem nas mesmas práticas das monarquias e ditaduras. Não podem ser contestados! Há muita discrepância entre fotos, notas e mensagens audiovisuais que são divulgadas nas redes sociais e as realidades das escolas municipais. Reformas inacabáveis e coloridos nas paredes sempre foram utilizados para mascarar as realidades. As fotos revelam muito. Por trás dos clics e likes, há muita opressão!

Entre o discurso e a qualidade, há uma enorme ponte cheia de obstáculos. O primeiro deles é a falta de respeito para com os professores do município. O PCC, Plano de Cargos e Carreiras, poderia ser substituído por Plano de Constrangimento e Cegueira. Constrangimento de muitos profissionais que passaram anos estudando, enfrentando viagens para se formarem, mais outros longos períodos de especialização, provas e concursos, cursos de aperfeiçoamento e tantos desafios para receberem o que recebem (uma vergonha!); Cegueira, pois alguns mestres e até professores aposentados ainda insistem em permanecer calados, coniventes e submissos àqueles que retiram seus direitos e mexem em seus bolsos. Talvez o imediatismo dos cargos que ocupam (muitos estão em cargos comissionados!) seja a cegueira que os impossibilita de entender quem é oprimido e quem é o opressor.

Prefeituras espalhadas pelo país fazem questão de repassarem os precatórios às contas dos profissionais da Educação. Seus gestores não estão fazendo nada além do que é direito adquirido. Em Maragogi, vivemos em uma realidade paralela, na qual a mão que pesa é a dos que administram os cofres públicos. Os precatórios são promessas bem distantes. Um desgosto para professores e familiares que esperam ao menos um movimento do atual gestor. Mas a espera cansa, cansou e desesperançou a muitos. Precatório parece até lenda. Ou como cantou o Zeca Pagodinho: “Nunca vi, nem comi, só ouço falar…”

Nem hoje, Dia dos Professores, e nem em qualquer outro dia, mensagens audiovisuais, digitais e até bombons com textinhos impressos farão afago às dores e angústias dos professores maragogienses. Falta muito e estamos longe de termos uma gestão preocupada com os profissionais da Educação.

Os únicos números que a eles interessam é o da meta exorbitante da Prova Saeb, conjunto de avaliações que fornecem um diagnóstico da educação básica. Ideb para lá, Ideb para cá, é a música que se escuta nos corredores e reuniões. Eles estão preocupados só com as aparências, pois os números mentem e muito. E a culpa não é dos docentes que lutam, ensinam e retiram do próprio bolso para pagar materiais e ferramentas para realizarem um trabalho exitoso. Mas, entre outros fatores, é culpa da desvalorização profissional. Daqui a alguns meses os números mentirosos circularão nas redes, paredes das escolas e nos discursos açucarados, fazendo afago ao ego dos que mentem, oprimem e martirizam os professores.

Eu queria um discurso bem mais feliz, como cantou Lecy Brandão. Queria falar sobre a vocação profissional, o amor doado nas salas de aula, a alegria em ver um aluno aprendendo a ler e escrever, a felicidade de vê-lo alcançar seus objetivos, as lágrimas emocionadas em ver médicos, enfermeiros, escritores, advogados, policiais, empresários e incontáveis profissões que fazem parte das centenas de alunos e ex-alunos. Mas eu não seria um profissional da Educação se não denunciasse essa hipocrisia das mídias e mensagens simuladas.

Não! Não está nada bem na Educação. Falta muito. E não falta trabalho para os professores. O que falta é sensibilidade, humanidade e hombridade aos que nos governam. Que esse dia seja perturbável não só a mim que tenho muitas dores a compartilhar. Mas também a eles. Que entre as doses de uísque importados, o azul de suas piscinas e o carvão que queima suas picanhas sejam invadidas pelo cheiro de suas atitudes podres e opressoras que há anos fazem parte de seus legados. Meu desejo é que a minha indignação invada o peito dos meus colegas professores que mesmo estando na mesma trincheira insistem em dar munição aos opressores que são nossos inimigos. A perseguição que meu colega sofre hoje, poderá ser enfrentada por mim amanhã. Não esqueçam disso! O inimigo não é meu colega indignado e valente que luta por melhorias. O inimigo é outro com nome e sobrenome.

Falta muito para meu discurso ser feliz. Só não falta opressão. Talvez, esses opressores esqueceram que o mundo girou, mas um dia ficará de cabeça para baixo novamente. Que o Paulo Freire tão discutido nos ambientes acadêmicos nos inspire a suportar os opressores que não foram libertados e que insistem em nos oprimir. Afinal, “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

Uma resposta

  1. Palavras inteligentes, muito bem colocadas e muito, muito verdadeiras…
    Para viver toda essa verdade e esse drama é só ser professor de Maragogi !!!

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