O bucólico povoado de São Bento

As marisqueiras, a praia, a Croa, as Ruínas do Mosteiro, o bolo de goma.
Croa de São Bento. (Foto: Sérgio Ricardo).

Atrás de outras praias do município, como Barra Grande e Antunes, que ganharam grande notoriedade nos últimos tempos e se tornaram superbadaladas, o balneário de São Bento segue tranquilo. Com suas ruas de areia, casas separadas por vastos terrenos, sem grandes empreendimentos turísticos, a terra das marisqueiras, do bolo de goma e das ruínas do mosteiro guarda as características primitivas do município. Pescadores, jogo de bola no fim da tarde, pessoas conversando nas calçadas, pouco movimento perto da praia à noite.

De águas calmas e uma imensidão de areia, que apresenta pequenas dunas quando o mar está seco, o destaque do lugar são suas piscinas naturais, a chamada Croa de São Bento. Situada a 2km da costa, o lugar tem formações coralinas e de águas transparentes, propícia para mergulho e lazer. E, por ser ainda menos explorada, ganha em vantagem para as demais piscinas naturais do município, já que não costuma ficar lotada. Por essas razões, São Bento é o lugar perfeito para quem procura sossego. Na orla, há alguns restaurantes “pé na areia”, que só funcionam durante o dia.

O marinheiroDouglas Teójiles Gomes. (Foto: arquivo pessoal)

“Sugiro visitar a Croa com a maré baixa, em 0.1, quando está bem seca e exibe uma faixa de areia de aproximadamente 100 metros”, indica o marinheiro Douglas Teójiles Gomes, que realiza passeios de jangada da costa até o local há quatro anos. Não é permitido outro tipo de embarcação, com um limite máximo de seis visitantes. O motivo é a preservação dos corais. O passeio tem duas horas de duração.

Douglas, de 25 anos de idade, há seis anos tem a carteira que a profissão exige. Casado e pai de uma menina, também trabalha num resort do município para garantir o sustento da família. Faz os passeios à Croa de forma autônoma nas horas vagas. A exploração comercial às piscinas de São Bento ainda é feita de maneira não oficial, já que ninguém possui alvará de concessão para explorar comercialmente o lugar.

Praia de São Bento, em Maragogi, Alagoas (Fotos: Sérgio Ricardo)

As marisqueiras

As marisqueiras são as personagens mais populares da praia do povoado. São figuras fáceis de serem vistas sentadas ou acocoradas, catando o pequeno crustáceo na areia molhada, quando a maré está seca – e o mar de São Bento seca muito, permitindo que a areia marrom exiba um espetáculo à parte.

Dona Maria da Conceição, ou Barquinha, como é conhecida, é uma das mais veteranas. A nativa de 83 anos de idade se dedica ao ofício há mais de 40. Tem a pele queimada pelo sol (nunca usou protetor solar), o rosto cheio de rugas profundas, e os joelhos, ralados, refletem os ossos do ofício. “A gente fica ajoelhada muito tempo na areia”, explica ela, referindo-se aos joelhos. “Aí acaba arrancando o couro.”

Apesar de aposentada, ainda sai de casa pela manhã (melhor horário para catar, segundo ela) com o balde vazio, e volta com ele cheio de marisco na cabeça. Dona Maria revela que, depois da morte do marido, há 30 anos, sustentou os dez filhos vendendo o crustáceo na feira livre de Maragogi e nas cidades vizinhas de Porto Calvo e Barreiros, em Pernambuco.

D. Barquinha sustentou dez filhos vendendo o crustáceo na feira livre de Maragogi. (Foto: cortesia)

“Mesmo trabalhando na roça, acompanhando meu falecido marido, nunca deixei de pegar marisco”, conta. “Só parei durante uns três meses, quando operei a vista. Nem agora, nessa pandemia, deixei de vir. Venho de máscara, mas venho.” Dona Barquinha diz que pega uma média diária de 4k. “1kg custa 25 reais, barato diante da carestia das outras coisas.” Com uma saúde invejável para sua idade, a idosa só toma remédio para controlar a pressão arterial. “Me sinto muito bem.”

“Há dois tipos de marisco, o branco e o preto”, segreda ela. “O mais saboroso é o preto, que até rende mais.” A marisqueira também revela que é muito assediada pelos turistas, que pedem para tirar foto ao seu lado. “E já matei a curiosidade de muitos deles, ensinando-lhes como preparar a moqueca do crustáceo.”

Ruínas do Mosteiro de São Bento. (Foto: Sérgio Ricardo)

Ruínas do Mosteiro de São Bento

Quem visita as ruínas do Mosteiro de São Bento, ocupado durante o período colonial, mergulha pela história. Construída no século XVII, a igreja entrou em processo de abandono e arruinamento na década de 1970 e, de lá para cá, tornou-se ponto turístico da região, atraindo visitantes. O local foi registrado como sítio arqueológico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por conta da variedade de artefatos arqueológicos preservados.

Em 2015, o portal “Destino Alagoas” realizou o concurso “As Sete Maravilhas de Alagoas”, com a proposta de promover ainda mais o estado e atrair aos municípios um número maior de visitantes. O concurso, divido em três categorias, “Belezas Naturais”, “Patrimônio Histórico e Arquitetônico” e “Cultura Material e Imaterial”, recebeu a inscrição das ruínas pelo município de Maragogi.

Entre janeiro e outubro deste ano, as ruínas passaram por uma reforma. As melhorias foram a limpeza do monumento, implantação de infraestrutura de acessibilidade e escoramento estrutural da edificação, que até hoje é usada pelos moradores da região para cerimônias religiosas.

As obras de revitalização ficaram prontas e o monumento arquitetônico foi reinaugurado para o público em 11 de novembro, com a realização de uma missa ao alvorecer. “O projeto, agora entregue à comunidade, é uma primeira etapa de outras duas pretendidas: a de urbanização da área, com implantação de mirante e anfiteatro; e a de implantação do Memorial Caminho e Fé”, afirmou Sandro Gama, superintendente substituto do Iphan no Alagoas.

Bolo de goma

Em se tratando de iguarias, a marca registrada são os sequilhos – para os nativos –, ou bolinhos de goma – para os turistas. Fabricados de forma artesanal e desenhados a mão feito pequenas obras de arte, é um produto legítimo made in Maragogi distribuído para outros estados do país e com fama nacional.

Mas não há muito segredo no processo de preparo desses doces. As fábricas que os produzem, em sua maioria, são instaladas nas próprias residências dos proprietários. E os ingredientes são bem conhecidos: amido de milho, leite de coco, margarina, gema de ovo e açúcar. Simples assim. A mágica, diria, está no toque, na habilidade dessas “artistas da culinária”.

Em Maragogi, os saquinhos de sequilho estão à venda nas prateleiras das padarias, supermercados e nas mãos de dezenas de vendedores ambulantes na beira das praias. E para o turista (ou visitante) que chega a Maragogi, vindo de Maceió, já toma conhecimento do bolinho às margens da estrada do povoado. Na AL 101 Norte, depara-se com vários comerciantes do produto, protegidos por barraquinhas improvisadas ou debaixo de guarda-sóis, por todo o território do povoado.

Edna Maria da Silva revende bolo de goma na beira da AL 101 há 12 anos. (Foto: Maragogi News)

“Revendo bolo de goma há doze anos”, conta Edna Maria da Silva, a Edna do Bolinho, como é conhecida. “Já trabalhei em hotéis da região, mas não quero mais. Bem melhor trabalhar para nós mesmos.” Com 34 anos de idade, a simpática morena criou a filha, hoje com 12 anos, sozinha. Com a maquininha de cartão de crédito na mão, revela que tem uma renda líquida mensal em torno de um salário mínimo.

Mas, para quem prefere pegar o bolinho diretamente na “fonte”, uma parada obrigatória é a fábrica da Irmã Marlene, à beira-mar do povoado. Situada nos fundos da sua própria residência, um pequeno grupo de mulheres fazem os sequilhos com as mãos ao redor de uma grande mesa na cozinha, bem próximas de uma das máquinas onde são assados. Irmã Marlene recebe centenas de turistas mensalmente.

Irmã Marlene está nesse ramo há 38 anos. Cada uma de suas auxiliares produzem o equivalente a 15kg de massa por dia. A fábrica, que opera com apenas duas máquinas, faz entrega para grandes centros comerciais do Grande Recife. Além dos tradicionais bolinhos de goma, também fabricam a “sua mãe” (derivado do sequilho), a rosca amanteigada e os bolinhos recheados, com três sabores: chocolate, doce de leite e goiabada.

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