Artesãos de Alagoas levam emoção a desfile do São Paulo Fashion Week

Nova coleção do designer alagoano Antonio Castro, Alambique Fantasia resgata memória e trabalho artesanal

Antes da Coleção Alambique Fantasia, da marca FOZ, assinada pelo designer alagoano Antonio Castro, abrir o segundo dia de desfiles do São Paulo Fashion Week, nesta quinta-feira (9), a emoção já tinha tomado conta do grupo de artesãos, colaboradores da marca na produção das peças, que veio ao evento a convite do Sebrae Alagoas. Eduardo Faustino, Sandra Cartaxo, Petrúcia Lopes, Leide Santana e Luciana Almeida vibraram com a entrada de cada look na passarela, com peças que remetiam aos seus trabalhos em linha, tecido, palha, barro ou madeira.

“É uma emoção que não consigo colocar em palavras, por isso estou chorando desde a chegada aqui no desfile”, desabafa a capelense Luciana Almeida, líder das bordadeiras do grupo Mimos de Dona Peró, que retratam, através dos tradicionais pontos de bordado, formas que evocam memórias, folguedos e outras tradições nordestinas. Para a Foz, eles assinam muitos bordados presentes nas peças.

Leide Santana, artesã do Pontal de Coruripe, vibrou com chapéus e bolsas trançados em palha e fibra do ouricuri, produzidos manualmente de forma sustentável. “As mulheres do grupo criativo Pontal Art amam trabalhar com o Antonio, que sempre nos desafia a fazer acessórios bem diferentes das peças utilitárias que estamos habituadas a produzir”, afirma.

É também o desafio e a parceria que movem Eduardo Faustino, pernambucano radicado em Alagoas há quarenta anos, que desenvolve gravuras que se transformam em estampas e peças de barro que viram acessórios. “Eu trabalhei com Francisco Brennand, em Recife, e desde então sempre busquei me aperfeiçoar no artesanato. Ver minhas contribuição em um desfile como esse, tão grandioso, me anima demais a continuar colaborando”, avisa.

Essa é a mesma energia de Sandra Cartaxo, nascida em Arapiraca, filha de pais paraibanos, que trabalha com costura em tecidos desde muito jovem, incentivada pela mãe, que dominava todas as manualidades. “Até conhecer o trabalho que o Antonio desenvolve na FOZ, eu não tinha ideia onde o patchwork, ou seja, a tradicional costura com retalhos, poderia chegar. “O primeiro casaco que fiz para a marca fez sucesso em Milão, quando foi usada por um jornalista de moda. E hoje pude ver aqui na passarela o patch invertido, um desafio proposto pelo Antonio de usar o tecido pelo avesso e ficou deslumbrante”, conta empolgada.

Petrúcia Lopes, representando o Inbordal, levou as tramas e cores do Filé Alagoano para as peças criadas por Antonio Castro. “Quando fomos convidadas por para colaborar na produção dessas peças belíssimas ficamos muito felizes, porque sabemos a qualidade do nosso acabamento, da matéria prima que usamos. Ver tudo isso nesse espetáculo é a concretização dessa parceria tão produtiva”, avalia.

O designer Antonio Castro faz questão de ressaltar a importância do artesanato para o seu trabalho e comemorou muito a presença de alguns representantes da arte popular alagoana no desfile. “Eu vivo pesquisando, esse processo faz parte do desenvolvimento das minhas coleções, por isso o mapeamento desses artistas é algo muito orgânico”, ressalta. Além dos artesãos presentes, que vieram a São Paulo a convite do Sebrae, ele também atua com artistas de povoados como Entremontes, no município de Piranhas, e Ilha do Ferro, em Pão de Açúcar.

Para a gestora de Artesanato do Sebrae, a analista Marina Gatto, a missão da instituição é abrir novos horizontes para a arte popular em suas mais variadas expressões. “O artesanal pode estar presente na moda, como vimos no belíssimo desfile da Coleção Alambique Fantasia, da Foz; mas também na decoração, com parcerias já articuladas com grandes marcas nacionais; nas exposições de arte contemporânea, quando o artesanal ganha espaço em museus e galerias; além das participações em grandes eventos no Brasil e no mundo”, afirma.

Segundo Marina não existem fronteiras para a arte popular, principalmente o artesanato alagoano reverenciados por críticos, curadores, lojistas, designers e principalmente o público. “Eu costumo dizer que nossos artesão podem chegar onde eles quiserem. Todos reconhecem o talento, da originalidade e do compromisso desses artistas tão dedicado à arte e à cultura alagoana”, completa

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