Situs inversus: homem conta como é viver com órgãos do lado contrário

O cabeleireiro Jonas Christian só descobriu que tinha situs inversus totalis, quanto todos os órgãos estão espelhados, quando já era adulto

Um dos procedimentos mais comuns em uma visita de rotina ao médico é a ausculta do coração. Em uma dessas consultas, ao escutar os batimentos irregulares de Jonas Cristian, os profissionais de saúde desconfiaram que o menino tinha um sopro no coração.

Para fechar o diagnóstico, ele fez um raio-x, que mostrou algo inesperado: ao invés de estar no centro do peito, levemente inclinado para a esquerda, o coração estava ao contrário. Jonas, que hoje tem 32 anos, foi diagnosticado com dextrocardia, uma malformação congênita rara onde o coração está inclinado para o lado direito do corpo.

Porém, anos depois, os médicos descobriram que não era só o coração que estava do lado errado. O cabeleireiro tem situs inversus totalis (SIT), uma condição onde todos os órgãos estão espelhados.

O que é a situs inversus totalis?

A SIT é uma condição congênita na qual os principais órgãos viscerais estão invertidos. Ela afeta cerca de um em cada 10 mil nascidos vivos.

“Tanto os órgãos toráxicos quanto os abdominais são invertidos: o que era para estar do lado direito, vai para o lado esquerdo e vice-versa”, explica o professor de anatomia humana Nozelmar Junior, gerente técnico da rede Bluefit.

A condição não tem uma causa aparente ou sintomas notáveis, mas pode gerar confusões quando não é conhecida: uma dor nos rins, por exemplo, pode ser interpretada como problema no intestino, e um batimento cardíaco normal pode ser entendido como anômalo, como foi o caso de Jonas.

“O situs inversus totalis não leva a complicações específicas ou causa danos à qualidade de vida do paciente depois de descoberto, mas pode ser confundido com outras condições até se chegar ao diagnóstico”, completa Junior.

No caso de Jonas, ele diz ter uma vida normal, mas percebe algumas restrições sutis em seu dia a dia. “Me sinto cansado mais rapidamente que a maioria das pessoas, mas não sou limitado em nada, inclusive tenho muito orgulho de como eu sou”, conta.

“Você já foi atropelado?”

O diagnóstico definitivo de situs inversus totalis do cabeleireiro só chegou no início da fase adulta, quando ele precisou fazer um exame de ultrassom para investigar a causa de dores abdominais.

“O médico estranhou. Ele ficava passando o aparelho no meu corpo e não entendia o que estava acontecendo. Percebi que ele estava demorando muito a entender o que aparecia. Ele me perguntou se eu já tinha sido atropelado ou passado por alguma operação, porque não estava entendendo a diferença dos meus órgãos”, lembra Jonas.

Foi a partir desse teste que o cabeleireiro foi encaminhado para outros exames que confirmaram a SIT. Hoje, a condição é motivo de orgulho para ele: tanto que o jovem decidiu tatuar em suas costelas a frase situs inversus, mas de forma espelhada, tal como ele é por dentro.

Metrópoles

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