Poeticamente selvagem

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Não sei o que primeiro me chamou a atenção ao acessar o instagram da poeta Jaciele Moura da Silva. Se a imagem ou as palavras. A imagem, pela ousadia, uma sensualidade selvagem e um tanto gélida, morrendo dentro de si próprio, estampada nos stories. Logo vi que não se tratava de uma mera figura apelativa para atrair seguidores. Não, não mesmo. As imagens, sempre são sublinhadas por frases densas, cortantes, nos faz mergulhar profundamente.

As palavras são seus acessórios especiais. Funcionam como se fossem a legenda das fotos. Ou não seria o contrário? Talvez Jaciele pense nas palavras antes das imagens, e explore sua figura emblemática como personagem de seus devaneios. Será? Ela diz que vive monitorando seus próprios desenganos.

A poeta de 21 anos, que tem no nome um grito silencioso (desconhecemos a qual vertente do nome ela se refere) até pouco tempo era solteira e morava lá longe, no meio do mato, num dos últimos assentamentos da zona rural de Maragogi. Agora casou e veio procurar inspiração noutro cenário: numa paradisíaca praia: a de Japaratinga, embora consciente de que precise fugir para dentro de mim, me abrigar nas montanhas selvagens do meu estômago, onde o silêncio se perpetue.

A onça que carrega inúmeras noites dentro do peito quer virar sereia. E ser pintada em todos os tons que houver. Na insanidade sem linguagem. No medo sem coragem. Como ventos presos no vazio. Da abstinência.

Trancafiando sua fala em sentimentos que nunca valem, ela escreve desde 2015, “para deixar as coisas do cotidiano menos enfadonha ou demasiadamente comum; poesia para mim é a liberdade da alma, aquilo que sentimos profundamente sem medo, sem receio de sentir”.

A poeta vive “para ressurreição de alguma alma perdida nesses espaços tão pacatos que a vida nos põe”. É seu modo de viver, “uma das melhores sensações que pode ocorrer no ser consciente, talvez até haja uma definição mais lógica, que talvez esteja escondida dentro de mim mesma”, poluindo-se no ego, disperso, secreto, fazendo o inexplicável, sentir, tocar, esboçar, mas nunca se deixa falar silêncio.

O que quer dizer com penitência que suga a língua? Sabe-se lá! “Poesia vai muito além do que deciframos, algumas se mantêm no anonimato, outras se escancaram para o mundo seus significados. Enfim, cada poesia é um sentimento novo, é um sentir nascente.”

Jaciele morre dentro de si própria, acreditando ser eterna.

*As frases em negrito fazem parte de poemas de Jaciele.

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Uma resposta

  1. ‘Montanhas selvagens do meu estômago’ – é demais!; uma linguagem de assustar e pensar. É um vigoroso presságio de uma nova poesia.

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