Entrevista exclusiva com a modelo Ana Luiza Nascimento, que, aos 67 anos, posou só de biquíni para campanha das Havaianas

“A gente pode se aposentar de uma carreira que tinha, mas não necessariamente se aposentar da vida.”
Ana Luiza bombando no Instagram das @havaianas. Foto: Marcelo Krasilcic

Com o crescimento da oferta de produtos e serviços voltados às modelos da terceira idade ou para pessoas maduras, o espaço desse público no mundo da moda e da publicidade também aumentou. Cada vez mais, é possível assistir a um desfile, campanha publicitária ou evento e encontrar um modelo sênior exibindo orgulhosamente suas rugas e cabelos brancos.

Por isso, mulheres e homens maduros e da terceira idade também ganham um espaço cada vez maior no casting das agências de modelos. Esses profissionais são conhecidos como modelo sênior, modelo idoso ou modelo da terceira idade. E existem muitas oportunidades de campanhas de moda feminina e masculina, anúncios de produtos cosméticos – e até de sandálias havaianas.

A corajosa, ousada e transgressora modelo gaúcha de Porto Alegre Ana Luiza Nascimento, aos 67 anos de idade, recebe milhares de elogios no perfil @havaianas, onde aparece bem à vontade só com a parte de baixo de um biquíni rosa. E um cachorrinho nos braços. “Ícone de mulher”, exalta o perfil nos comentários. Casada, sem filhos, a modelo já realizou campanhas para marcas de vários segmentos, além de ter feito parte do editorial “Toda Beleza” da primeira edição da revista ForbesLife Fashion.

“Faço fotos de lingerie sem o menor problema”, revela Ana Luiza. “E descobri que não é importante só para mim como modelo, mas é uma representação das mulheres da minha idade. A gente ainda pode descobrir muitas coisas. Descobrir, como eu, uma profissão que eu nem pensava mais, que é muito compensador. É muito interessante você ter esse desafio. E descobrir coisas que você ainda não fez. Só porque você tem 60 anos, não quer dizer que você sabe tudo. Muito pelo contrário. A gente pode se aposentar de uma carreira que tinha, mas não necessariamente se aposentar da vida. A vida não acaba aos 60. A vida acaba quando você decide que não quer fazer mais nada, vai ficar sentada no sofá.”

Ana Luiza tem 1,76 de altura, 96 de busto, 80 de cintura, 99 de quadril, manequim 40. Seiki Fashion. Foto: Rodrigo Takeshi

MN – Desde quando a senhora trabalha como modelo?

Ana Luiza – Comecei a trabalhar como modelo há 11 anos, quando Celso Kamura (colorista, maquiador e cabeleireiro) me chamou para fazer uma foto sobre maquiagem para mulheres maduras para a revista dele, Conexão Kamura.

MN – Como surgiu o convite para posar só de biquíni para a campanha das sandálias Havaianas?

Ana Luiza – Fiz o casting e fui selecionada.

MN – Foi a primeira vez que fez esse tipo de trabalho?

Ana Luiza – Sim, foi a primeira vez. Aceitei fazer porque se tratava de uma marca bem conceituada

MN – Qual foi a sensação?

Ana Luiza – Foi uma experiência incrível, já que tive todo o apoio de uma equipe muito profissional e talentosa.

MN – A senhora quebra paradigmas. Recebe críticas negativas? Sofre preconceito? Com lida com isso?

Ana Luiza – A primeira coisa que uma modelo aprende a lidar é com a crítica. Você recebe nãos o tempo todo. É importante não levar as negativas para o plano pessoal e aprender com as construtivas. É o que eu faço.

MN – Tem consciência de que serve de inspiração para outras mulheres? Que significa assumir papel tão importante?

Ana Luiza – Essa consciência apareceu aos poucos. No início eu só achei ótimo poder trabalhar como modelo aos 56 anos. Mas à medida que as fotos foram aparecendo, percebi a reação positiva das mulheres da minha idade, que se sentem vistas e representadas nas minhas fotos. Hoje entendo que não faço a foto só para mim, mas também por todas as mulheres da minha faixa etária que não se viam mais em lugar algum. Não foi um papel que eu escolhi, aconteceu e fico muito feliz por poder dividir essa valorização das mulheres em todas as idades com todas elas.

Liz Lingerie. Foto: Karine Basilio

MN – Até pouco tempo atrás, alguns homens modelavam até depois dos 40 anos. A carreira das modelos era bem mais breve. É mais uma conquista das mulheres, não é?

Ana Luiza – Sim, acho que é uma conquista para todas nós, principalmente para as modelos que estão começando agora, que poderão deixar a carreira quando quiserem, não porque ficaram velhas.

MN – Como é o mercado de trabalho para modelos da sua faixa etária?

Ana Luiza – O mercado ainda está começando a se dar conta do valor de colocar uma mulher mais velha para anunciar um produto que outras mulheres da mesma idade vão usar. A parte boa é que todas as agências têm hoje pelo menos uma modelo acima dos 60. Até quatro anos atrás, nenhuma aceitava modelos acima desta idade. Liguei para todas. A primeira que disse sim foi a Ford Models. Isto é, sim, uma grande mudança num tempo relativamente pequeno.

MN – A senhora é vaidosa?

Ana Luiza – Acho que sou vaidosa, sim, mas a minha ênfase não é na beleza, e sim na saúde.

MN – O que faz para se cuidar?

Ana Luiza – Faço exercícios, amo nadar, tento manter uma dieta saudável e sempre hidratada.

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