Com o crescimento da oferta de produtos e serviços voltados às modelos da terceira idade ou para pessoas maduras, o espaço desse público no mundo da moda e da publicidade também aumentou. Cada vez mais, é possível assistir a um desfile, campanha publicitária ou evento e encontrar um modelo sênior exibindo orgulhosamente suas rugas e cabelos brancos.
Por isso, mulheres e homens maduros e da terceira idade também ganham um espaço cada vez maior no casting das agências de modelos. Esses profissionais são conhecidos como modelo sênior, modelo idoso ou modelo da terceira idade. E existem muitas oportunidades de campanhas de moda feminina e masculina, anúncios de produtos cosméticos – e até de sandálias havaianas.
A corajosa, ousada e transgressora modelo gaúcha de Porto Alegre Ana Luiza Nascimento, aos 67 anos de idade, recebe milhares de elogios no perfil @havaianas, onde aparece bem à vontade só com a parte de baixo de um biquíni rosa. E um cachorrinho nos braços. “Ícone de mulher”, exalta o perfil nos comentários. Casada, sem filhos, a modelo já realizou campanhas para marcas de vários segmentos, além de ter feito parte do editorial “Toda Beleza” da primeira edição da revista ForbesLife Fashion.
“Faço fotos de lingerie sem o menor problema”, revela Ana Luiza. “E descobri que não é importante só para mim como modelo, mas é uma representação das mulheres da minha idade. A gente ainda pode descobrir muitas coisas. Descobrir, como eu, uma profissão que eu nem pensava mais, que é muito compensador. É muito interessante você ter esse desafio. E descobrir coisas que você ainda não fez. Só porque você tem 60 anos, não quer dizer que você sabe tudo. Muito pelo contrário. A gente pode se aposentar de uma carreira que tinha, mas não necessariamente se aposentar da vida. A vida não acaba aos 60. A vida acaba quando você decide que não quer fazer mais nada, vai ficar sentada no sofá.”
MN – Desde quando a senhora trabalha como modelo?
Ana Luiza – Comecei a trabalhar como modelo há 11 anos, quando Celso Kamura (colorista, maquiador e cabeleireiro) me chamou para fazer uma foto sobre maquiagem para mulheres maduras para a revista dele, Conexão Kamura.
MN – Como surgiu o convite para posar só de biquíni para a campanha das sandálias Havaianas?
Ana Luiza – Fiz o casting e fui selecionada.
MN – Foi a primeira vez que fez esse tipo de trabalho?
Ana Luiza – Sim, foi a primeira vez. Aceitei fazer porque se tratava de uma marca bem conceituada
MN – Qual foi a sensação?
Ana Luiza – Foi uma experiência incrível, já que tive todo o apoio de uma equipe muito profissional e talentosa.
MN – A senhora quebra paradigmas. Recebe críticas negativas? Sofre preconceito? Com lida com isso?
Ana Luiza – A primeira coisa que uma modelo aprende a lidar é com a crítica. Você recebe nãos o tempo todo. É importante não levar as negativas para o plano pessoal e aprender com as construtivas. É o que eu faço.
MN – Tem consciência de que serve de inspiração para outras mulheres? Que significa assumir papel tão importante?
Ana Luiza – Essa consciência apareceu aos poucos. No início eu só achei ótimo poder trabalhar como modelo aos 56 anos. Mas à medida que as fotos foram aparecendo, percebi a reação positiva das mulheres da minha idade, que se sentem vistas e representadas nas minhas fotos. Hoje entendo que não faço a foto só para mim, mas também por todas as mulheres da minha faixa etária que não se viam mais em lugar algum. Não foi um papel que eu escolhi, aconteceu e fico muito feliz por poder dividir essa valorização das mulheres em todas as idades com todas elas.
MN – Até pouco tempo atrás, alguns homens modelavam até depois dos 40 anos. A carreira das modelos era bem mais breve. É mais uma conquista das mulheres, não é?
Ana Luiza – Sim, acho que é uma conquista para todas nós, principalmente para as modelos que estão começando agora, que poderão deixar a carreira quando quiserem, não porque ficaram velhas.
MN – Como é o mercado de trabalho para modelos da sua faixa etária?
Ana Luiza – O mercado ainda está começando a se dar conta do valor de colocar uma mulher mais velha para anunciar um produto que outras mulheres da mesma idade vão usar. A parte boa é que todas as agências têm hoje pelo menos uma modelo acima dos 60. Até quatro anos atrás, nenhuma aceitava modelos acima desta idade. Liguei para todas. A primeira que disse sim foi a Ford Models. Isto é, sim, uma grande mudança num tempo relativamente pequeno.
MN – A senhora é vaidosa?
Ana Luiza – Acho que sou vaidosa, sim, mas a minha ênfase não é na beleza, e sim na saúde.
MN – O que faz para se cuidar?
Ana Luiza – Faço exercícios, amo nadar, tento manter uma dieta saudável e sempre hidratada.